Como proponente do registro das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro a Patrimônio Cultural do Brasil (processo concluído e aprovado pelo IPHAN em 2007), o Museu do Samba é reconhecido pelo Estado enquanto Centro de Referência na Salvaguarda destes bens culturais. Um dos grandes impactos da titulação foi a criação do primeiro programa de história do oral do samba carioca, que preserva a memória do samba a partir das vozes de seus protagonistas – fontes inéditas de uma memória secularmente silenciada pela nossa historiografia oficial.
Trata-se do Programa Memória das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro, uma iniciativa do Museu do Samba voltada à coleta de depoimentos de sambistas tradicionais considerados referência dessa manifestação artístico-cultural brasileira, através de registro audiovisual. Iniciado em 2009, o programa se constitui em importante geração de fonte primária, de resgate e preservação do samba, uma forma de garantir direito a essa memória.
Mediante a escassez de registros sobre samba a partir da ótica dos sambistas, a instituição atua como espaço de guarda dessas vozes excluídas e, ainda, como local de referência no fomento à luta pela preservação e valorização das memórias individuais e coletivas do samba carioca. Preservam-se, então, memórias do samba como forma de expressão: na dança, na música, na religiosidade, na poesia, suas matrizes, seus preceitos, seus ritos, sua culinária e seus atores.
São baianas, passistas, velhas-guardas, mestres-salas, cozinheiras, compositores, porta-bandeiras, fundadores de agremiações, filhos de sambistas memoráveis (como os herdeiros de Silas de Oliveira), ritmistas, intérpretes. E, assim, narrativas e movimentos plurais constroem, continuamente, o complexo e rico mosaico de uma manifestação cultural de origem negra, com participação efetiva dos sambistas no processo de salvaguarda dos bens titulados.
Um acervo singular que conta com mais de 150 histórias de vidas documentadas e é um dos mais consultados no museu por pesquisadores e público em geral: há hoje biografias, pesquisas acadêmicas, exposições museológicas e até peças de teatro desenvolvidas com base nos depoimentos do programa e que vem possibilitando novos olhares e narrativas que iluminam esses sujeitos sociais nas histórias oficiais do samba – e do Brasil.
Fotos: Acervo Museu do Samba
Por Nilcemar Nogueira, Fundadora e diretora de projetos especiais do Museu do Samba,
e Desirree dos Reis Santos, Historiadora e gerente técnica do Museu do Samba.