Em 2016 a cidade do Rio de Janeiro sediou os Jogos Olímpicos, tornando-se palco de obras espetaculares e projetos de reformas urbanas. Na Vila Autódromo centenas de famílias foram removidas, tendo como argumento as obras do Parque Olímpico, que na verdade foi construido próximo da comunidade, tendo entre os dois, um hotel de luxo de uma rede privada. O que deixa evidente a contradição do argumento e a mercantilização do territorio.
Com uma política de remoção que viola os direitos dos cidadãos que habitam a cidade e não desenvolve uma política adequada de habitação para a população. Transformando a cidade em cenário de conflito e aumentando a população de rua, que aos olhos de nossos governantes, parecem invisíveis.
As remoções na Vila Autódromo, uma comunidade que tem sua origem na década de 1960, como uma colônia de pescadores, as margens da Lagoa de Jacarepaguá, fazem parte de uma história de luta e resistência contra a expeculação imobiliária, pelo direito a cidade e a moradia adequada e tem como desfecho a permanência da Vila Autódromo ao lado do Parque Olímpico e o nascimento do Museu das Remoções em 2016.
Porém, apenas vinte famílias conseguem permanecer neste território, resistindo a violência exercida pelo Estado, que utilizou todo um aparato de poder contra essa população, para que, desistissem de seus direitos, ignorando a Lei Complementar nº 74/2005, que estabelece quase toda a área da comunidade como Área de Especial Interesse Social (AEIS), destinada à moradia popular.E ainda dois títulos de Concessão de Uso, reconhecidos pelo Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro – ITERJ: um, concedido pelo Governo do Estado; o outro, pela Secretaria de Habitação e Assuntos Fundiários do Rio de Janeiro.
Uma resistência histórica, com ações criativas, culturais, artísticas e pacíficas. Organizadas por moradores e apoiadores, compondo um movimento de luta denominado “Ocupa Vila Autódromo”, no qual nasceu o “Museu das Remoções”, um museu que nasce na luta e para a luta, contra as remoções e pela preservação da memória das populações removidas e ameaçadas de remoção, compreendendo que a preservação da memória é um poderoso instrumento na luta e resistência contra as remoções.
Por Sandra Maria Teixeira, Moradora da Vila Autódromo e Co-fundadora do Museu das Remoções