Desde o início do ano passado, a Fundação Oswaldo Cruz tem ganhado destaque em nível mundial por conta da sua luta contra o vírus da Covid-19 e, certamente, todos já vislumbraram a imagem do Castelo Mourisco como símbolo da instituição em matérias de jornais e televisão. Mas o que nem todos sabem é que esse patrimônio cultural faz parte de um conjunto histórico que abrange outras edificações originais idealizadas por Oswaldo Cruz e construídas pelo arquiteto Luiz Moraes Jr., no início do século XX, para abrigar as atividades da época, denominado Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos. Conhecido também como Nahm, este núcleo faz parte do circuito de visitação do Museu da Vida e é objeto de um Plano de Requalificação, que tem como objetivo aumentar a oferta de atividades socioculturais e transformá-lo em um Campus Parque aberto ao público.
Este é o contexto da pesquisa conduzida pela arquiteta e urbanista Roberta dos Santos de Almeida, mestranda do Programa de Pós-Graduação da Casa de Oswaldo Cruz, sob orientação do Dr. Marcos José de Araújo Pinheiro (COC/Fiocruz). O estudo nasceu, em 2019, a partir da importância em pensar o patrimônio cultural e a cidade de maneira coletiva, onde os sujeitos exercem papel ativo no debate e reprodução dos espaços públicos, almejando a integração de ambientes mais inclusivos, plurais e democráticos, e reforça o Plano de Requalificação do Nahm enquanto instrumento estratégico para aproximar a população do território nas ações de valorização e preservação que estão sendo delineadas.
A pesquisa considera o Nahm para além da sua representação para a história e memória da Fiocruz e para o cenário das ciências e da saúde no Brasil, e busca compreendê-lo como parte de um território no qual estabelece significados e relações diversas com os trabalhadores da instituição e com os moradores locais.
Além de incluir uma revisão bibliográfica acerca da temática, a dissertação intitulada “A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GESTÃO SUSTENTÁVEL DO PATRIMÔNIO CULTURAL: Um Estudo sobre o Plano de Requalificação do Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (NAHM/Fiocruz)” revela os resultados de um pesquisa social que incluiu a realização de entrevistas e a aplicação de questionários online direcionados aos diferentes grupos de interesse levantados no trabalho.
Observa-se que os benefícios da participação social, neste caso, podem se desdobrar em duas vias complementares: o conjunto arquitetônico e urbanístico Nahm amplia a sua representação como parte do território e da vida dos seus trabalhadores e moradores, tecendo uma rede de significados e sentimentos que influenciarão na forma como cada um se relaciona, transmite e cuida desse patrimônio; por outro lado, a diversidade de vivências e experiências nesse novo espaço do Campus Parque colabora para o maior acesso à educação e à cultura, na reivindicação do direito à cidade e no exercício dos direitos culturais e humanos. Esses fatores também se somam ao conceito ampliado de saúde, compreendidos enquanto fundamentais ao bem-estar coletivo, e são essenciais para garantir a sustentabilidade.
Mais informações:
ALMEIDA, Roberta dos Santos de; PINHEIRO, Marcos José de Araújo. Uma Discussão Sobre A Participação Social na Gestão Sustentável do Patrimônio Cultural: Caso do Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (NAHM). In: Anais do 4º Simpósio Científico do ICOMOS Brasil. Belo Horizonte (MG) Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: <https://www.even3.com.br/anais/simposioicomos2020/242928-uma-discussao-sobre-a-participacao-social-na-gestao-sustentavel-do-patrimonio-cultural–caso-do-nucleo-arquiteton/>
RODRIGUES, Karine. Fiocruz consolida vocação de campus parque. Disponível em <http://www.coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/2007#!foto_cavalaric__a_6>
Por Roberta dos Santos de Almeida
Arquiteta e urbanista, mestranda no Programa de Pós-graduação em
Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde
da Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz