O Ilé Àse Ògùn Àlákòrò foi instalado no território de Magé na década de 1990 como Instituição Espiritualista Oni Lewa N’jo. Desde sua criação preservou o Sagrado que foi herdado. Estabeleceu estratégias para articular-se com a comunidade local e aproximar-se do poder público como forma de garantir e ampliar direitos relacionados à cultura e a religiosidade afro-brasileira.
Durante aproximadamente três décadas manteve os cuidados com a preservação e transmissão dos saberes e fazeres do Sagrado e articulou-se para difundir valores da religiosidade e da cultura candomblecista e afro-brasileira através da oralidade.
No Àse Ògùn Àlákòrò a tradição oral está ligada às pessoas que detém o conhecimento, à cultura material que as cercam e às formas de preservação e transmissão dos saberes e fazeres. Ela é caracterizada como uma prática de educação não-formal muito comum nas culturas tradicionais. Esta prática ocorre de forma constante e singular, inserida na metodologia da tradição Griô.
O Asé Ogun Alakorô é um lugar de preservação do Sagrado Nagô-Ketu, que alicerçado por esta tradição, estabeleceu estratégias para a preservação cultural afro-brasileiras, para o reconhecimento do seu território e para conquista e ampliação de direitos da comunidade na qual está inserido. A partir da estratégia estabelecida articulou-se com a comunidade em seu entorno, com as instituições parceiras que atuam em rede no campo da religiosidade cultura e com segmentos do poder público nos âmbitos federal, estadual e municipal.
As ações evidenciadas na realização das Mostras Culturais, nas exibições do Cine Clube Sire, na Feira da Pretinhosidade, nas palestras sobre a religiosidade afro, na atuação dos núcleos de atendimento à comunidade, nas rodas de capoeira e de jongo, nas oficinas de esculturas em ferro e madeira, de confecção das Bonecas Dandara, da Culinária Africana e no pré-vestibular inserem-se na busca de legitimação do espaço sagrado, cultural e social.
A atuação articulada com as Coordenadorias de Promoção da Igualdade Racial, com as redes de educação pública e privada, com órgãos do poder público e com a imprensa, proporcionou o empoderamento da instituição e de seus membros e a implementação de ações afirmativas e de políticas públicas em seu território.
Em 2016 a Associação de Comunidades Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro reconheceu a importância deste espaço para a região em que o Àsé está inserido e, em 2018, a Fundação Palmares, órgão do então Ministério da Cultura, concedeu o título de Quilombo do Bongaba a toda a região de seu entorno.
O resultado destas articulações desenvolvidas durante três décadas resultou nestas ações afirmativas, na criação do Quilombo Quilombá, na certificação do Ponto de Cultura Instituição Oni Lewa Njo – Quilombo Quilombá do Estado do Rio de Janeiro e lançamento da base fundamental da Escola Candomblecista Quilombo Quilombá.
Um de seus principais objetivos será o de preservar e transmitir os saberes tradicionais através da oralidade, de sua materialidade e de trocas permanentes, geracionais e vivenciais entre os mais velhos, os Mestres Griôs, e os jovens estudantes.
Paulo de Ogun, idealizador da Escola Candomblecista, afirma que esta terá como princípios norteadores uma educação circular, escutatória, e emancipatória através de um diálogo construtivo, criativo e libertador. Segundo ele “nos curvamos para aprender para que depois possamos nos erguer e sentar para ensinar”. A prática será implementada neste espaço educacional com educadores iniciados na religiosidade e na cultura do candomblé.
Sensível aos desafios para a implementação deste espaço educacional e de suas propostas didáticas novas estratégias são estabelecidas, ações são planejadas e parceiros são convidados a aderirem aos projetos apresentados dentro de uma perspectiva de tempo própria das religiões de matrizes africanas e dos saberes ancestrais presentes nas memórias dos mais antigos e dos mais velhos.
Foto de capa: Roda de Jongo, de Thiago Côrtes
Por Alexandre Marques, Professor de História e presidente
da Associação de Professores-Pesquisadores de História, e
Paulo José dos Reis, Babalorixá do Àsé Ògun Àlákòró, Pedagogo,
Conselheiro Estadual de Promoção da Igualdade Racial.