A primeira ferrovia do Brasil foi inaugurada em 1854, empreitada pelo barão de Mauá, consistindo num percurso de 14,5 km entre o porto de Mauá e Fragoso, ambos no município de Magé. No píer – prodígio da engenharia do ferro para sua época, que avançava 150 metros na Baía de Guanabara – desembarcavam passageiros e mercadorias vindos da cidade do Rio de Janeiro, para pegar o trem na primeira estação: Guia de Pacobaíba. Tombados como monumento histórico nacional quando de seu centenário em 1954, tanto o píer quanto a estação se encontram em estado avançado de deterioração.
A primeira locomotiva, Baroneza, está na Casa do Patrimônio Ferroviário do Rio de Janeiro, o Museu do Trem, num dos galpões das oficinas da Estrada de Ferro D. Pedro II – posteriormente denominada Central do Brasil – em Engenho de Dentro, cuja estação, tombada em instância municipal, é a única com cobertura original de estrutura metálica em arco. Os demais galpões deram lugar ao estádio Nilton Santos, ao Museu Cidade Olímpica e à Praça do Trem, bastante utilizada pela população local. Os museus se encontram fechados, tendo o último, suposto legado, funcionado por cerca de dois anos.
Ainda, prestes a completar seu centenário, a estação Barão de Mauá da Leopoldina Railway, inaugurada em 1926 e tombada pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural, atualmente empresta seu passeio a um dos pontos de ônibus mais movimentados da cidade. O prédio abandonado, nascido já mutilado – projeto original de Prentice previa ala esquerda ao pórtico central, conferindo padrão simétrico – foi objeto de várias propostas de ‘revitalização’ não concretizadas.
Uma área construída de 22 mil m² em terreno de 110 mil m², localizada entre a estação de trem Praça da Bandeira e a de metrô Cidade Nova, constitui reserva estratégica para uma intervenção contundente na cidade.
Finalmente, de nossa dissertação Da Central a Japeri: um Manifesto em prol do Patrimônio Cultural inserido no Cotidiano do Transporte Ferroviário do Rio de Janeiro, tomemos a estação Japeri –denominada Belém de 1858 a 1945/1947 – cujo prédio original, um dos únicos exemplares cottage orné, após décadas sem uso, e isolado por tapumes na plataforma da nova estação, foi restaurado em 2019, e incendiado em 2020, retornando à sua condição de ilha em decomposição.
Assim, grande parte das instalações ferroviárias históricas remanescentes do Estado do Rio de Janeiro se encontram sucateadas por sua obsolescência, mas principalmente pelo abandono, já que a memória identitária da classe trabalhadora não parece fazer parte das políticas públicas de patrimônio.
Por Mariana Costa Campos
Discente da Especialização em Política e Planejamento Urbano – IPPUR/UFRJ
Mestre em Preservação do Patrimônio Cultural – IPHAN/RJ
Graduação em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Presbiteriana Mackenzie