“Aquele edifício era conhecido no Rio de Janeiro como “Capanema Maru”, nome que o povo lhe dava porque tinha forma de navio e “Maru” eram os navios japoneses que frequentavam muito o porto do Rio de Janeiro”.
Gustavo Capanema¹
Trabalhar no edifício do MEC por duas décadas, vivenciando o cotidiano de um ícone da arquitetura moderna foi a semente indelével para o desenvolvimento deste trabalho.
Num primeiro momento, causou-me estranheza a pouca privacidade daquela planta livre e a luminosidade intensa, questionadas pelos críticos mais ferrenhos, como Abgar Renault. No entanto, seus fiéis defensores, como Drummond, relatavam as virtudes da vista, das obras de arte, do diálogo com a cidade através da fluidez dos pilotis.
Mergulhei no Arquivo Central do IPHAN buscando informações do processo do projeto e construção com as documentações complementares sobre a ocupação, obras e solicitações posteriores, arquivos pessoais e inúmeras plantas arquitetônicas dispersas em mapotecas. Descobri, nesse momento, o universo contido naqueles documentos e conheci efetivamente Dr. Rodrigo e sua imensa capacidade de trabalho, assim como seu zelo e devotamento ao patrimônio nacional. Consultando despachos, informações e ofícios, me aproximava de Lucio Costa, Carlos Drummond, Gustavo Capanema, o engenheiro Sousa-Aguiar, entre tantos outros.
Após tantas leituras em que, muitas vezes, as informações e solicitações oficiais se misturavam aos cuidados das relações pessoais, se tornou fácil imaginar Rodrigo em sua sala, trazer para minha memória as marcas dos saltos-agulha dos scarpins das funcionárias que ainda marcam o piso de linoleum do Ministério.
A pesquisa que se iniciara naquele momento se concretizou no livro CAPANEMA MARU, realizada essencialmente através de fontes primárias. A análise dessa documentação institucional permitiu a elucidação de diferentes lacunas sobre a história da construção e ocupação desse edifício.
A pesquisa em arquivos pessoais, nas entrevistas registradas, publicadas ou não, ou na própria mídia, foi fundamental para uma melhor compreensão e valoração da história do edifício.
Construía-se a memória de um edifício de fato público… e útil.
Tornava-se impossível dissociar o edifício do Ministério de todos os acontecimentos que ali tiveram lugar, da vida e memória das pessoas que por lá passaram. Seu significado ultrapassa sua importância como exemplar arquitetônico, pois integra a memória da cidade. Memória dos espaços, dos usos, das relações sociais, de seus aspectos simbólicos.
Este somatório de recortes contribui para a revalorização da própria história do edifício, agregando valores afetivos aos valores materiais já consagrados, que devem ser considerados em qualquer intervenção, nos permitindo experimentar uma sensação de continuidade e pertencimento e que, respeitosamente, seja um caminho para sua reapropriação pelo usuário.
¹MÓDULO – Depoimentos – nº85 – maio 1985
Por Sandra Branco Soares, Arquiteta/IPHAN e Servidora pública federal aposentada.