O EDIFÍCIO DA COMPANHIA DOCAS DE SANTOS, UM PRÉDIO QUE ATRAVESSA O TEMPO

O EDIFÍCIO DA COMPANHIA DOCAS DE SANTOS, UM PRÉDIO QUE ATRAVESSA O TEMPO

O prédio da Antiga Companhia Docas de Santos foi tombado pelo IPHAN em 1978 através do processo 0976-T-78 e inscrito nos Livros do Tombo Histórico e de Belas Artes, após pedido do historiador Gilberto Ferrez, por ser um dos mais notáveis remanescentes dos oitenta e três prédios que haviam sido construídos na antiga Avenida Central. Também tombado pelo INEPAC, foi projetado pelo Arquiteto Ramos de Azevedo e construído por Antonio Januzzi, Filho & C, que se utilizou dos materiais construtivos mais modernos disponíveis naquele momento, como treliças e perfis metálicos e lajes em abobadilha.

Foram usados materiais importados de diversos países, tais como: cimento, tijolos, ladrilhos, telhas e ferragens da França; vigas de aço, ladrilhos, vidros decorados e cristais da Bélgica, peças de ferro da Alemanha, mármores da Itália, apenas para citar alguns exemplos. As obras foram concluídas em 1908, tendo sido a edificação inaugurada para as comemorações do centenário da abertura dos portos no Brasil.

O prédio, importante exemplar da arquitetura eclética, é composto por cinco pavimentos com embasamento em cantaria em gnaisse, pedra muito utilizada em monumentos no Rio de Janeiro. A fachada possui elementos decorativos extremamente elaborados, sendo excepcional na cantaria do embasamento e nos elementos em argamassa dos demais pavimentos. Foram seus grandes valores estético e documental os principais motivadores do pedido de tombamento federal.

Ornato em gnaisse. Fachada Av RB. – Foto: Catherine Gallois

As fachadas dos demais pavimentos são revestidas por argamassa cuja textura original foi restaurada em obra pioneira em 1995 realizada pelo IPHAN, que recuperou também seus ornatos já em mau estado de conservação. O prédio conta também com belíssimas esquadrias em madeira e, no térreo, tem portas em jacarandá que são verdadeiras obras-de-arte.

Desde 2019, o prédio como um todo, que conta com pavimento nobre com tetos ricamente ornamentados em estuque, belíssimas pinturas artísticas que remetem a figuras mitológicas e importantes personagens históricos, clarabóia, além do elevador original preservado e envolto por escadarias em ferro e mármore, encontra-se em obras que visam não apenas restaurar seus interiores, cobertura e fachadas, como, também, modernizar suas instalações prediais para readequação às funções da Superintendência do Iphan do Rio de Janeiro. Recentemente, a fachada principal passou por intervenções minuciosas de conservação-restauração que contaram com ações exemplares de documentação, diagnóstico e ensaios de compatibilidade e efetividade de tratamentos conservativos.

O Patrimônio ocupa o prédio há mais de 30 anos, desde 1986, quando ali se instalou a Fundação Pró-Memória. De acordo com vasta documentação disponível no Arquivo da Superintendência, no que já representa um terço do tempo de vida do prédio, nota-se que esse vem sendo objeto de atenção contínua de seus técnicos e gestores, empenhados tanto em diferentes ações de manutenção, conservação, adequação e restauração dos seus diferentes espaços, instalações e elementos construtivos, quanto em diferentes ações culturais de extroversão. Desde então, o prédio vem abrigando também um acervo arquivístico de valor incomensurável, contendo informações sobre as ações federais de proteção e conservação do patrimônio arqueológico e do acervo de bens móveis e imóveis protegidos pelo Iphan no Estado do Rio de Janeiro. O prédio e seu acervo são, em si, importantes fontes de pesquisa e de produção de conhecimento sobre as ações de preservação do patrimônio. E, seguem atravessando o tempo.

Referências:

CERNE Eng. e Projetos. Projeto Edifício-Sede IPHAN. Relatório Técnico Estrutural. IPHAN. Av. Rio Branco, 46. Rio de Janeiro Diagnóstico Estrutural. SEI 01500.002206/2015-91 (fls. 1781-1842). Rio de Janeiro: SE-IPHAN/RJ, Archi 5, 2016.

IBÁÑEZ, A. B.; GALLOIS, C. J. S.; ROEHL, D. Aplicación de la fotogrametria digital de objeto próximo aérea y terrestre para mapeo de daños en edificios históricos: el caso del Edifício de la Companhia Docas de Santos, Rio de Janeiro. Anais do 4o Simpósio Científico do ICOMOS Brasil. Anais…Rio de Janeiro – Belo Horizonte – Minas Gerais: 24 fev. 2021. 

JORNAL DO COMMERCIO. Edifício da Companhia Docas de Santos. Publicado em 28/01/1908, autor não identificado.

MACHADO, V. C. Pesquisa Histórica & Iconográfica – Edifício-sede do IPHAN-RJ. Av. Rio Branco, 44, 46 e 48. Centro. Rio de Janeiro – RJ. SEI 01500.002206/2015-91 (fls. 877-970). Rio de Janeiro: SE-IPHAN/RJ, Archi 5, 2016.

MACHADO, V. C. Companhia Docas de Santos: um estudo de caso para o patrimônio materialAcervo, v. 29, n. 1, p. 289-301, 20 maio 2016.

 

Por Catherine Gallois
Arquiteta e Urbanista / FAU-USP
Mestre em Planejamento Urbano e Regional / IPPUR-UFRJ
Doutora em Arquitetura e Urbanismo / PPGAU-UFF
Membro do ICOMOS Brasil
Integrante do Grupo de Pesquisa Cidade como Documento
da História Urbana (CiDHUrb), da Universidade Federal Fluminense-UFF