Por Susana Priscila Cerqueira Santos (Conservadora-Restauradora, ex-aluna e ex-monitora do PEP/MN) e Alícia Neves da Silveira (Conservadora-Restauradora, ex-monitora do PEP/MN)
Em seus muitos anos atuando no Laboratório Central de Conservação e Restauração do Museu Nacional (LCCR/MN), Márcia Valéria de Souza[1], conduziu por uma década o Programa de Educação Patrimonial (PEP). O PEP, parceria do Museu Nacional com o Colégio Pedro II, possibilitou a cerca de 50 alunos do ensino médio capacitação na área de Preservação do Patrimônio, proporcionando uma interação direta com os profissionais do laboratório que auxiliavam na conscientização durante os processos de intervenção no patrimônio do Museu Nacional. Os alunos também puderam compartilhar saberes com profissionais de outras universidades federais que colaboraram com suas pesquisas e apresentações de seminários, como podemos observar no projeto de difusão científica disponível na plataforma do YouTube Um Museus de Grandes Possibilidades [2].
Para Márcia [3], o PEP “Trata-se de um dispositivo de inclusão social, pois numa sociedade tão desigual como é a brasileira, acreditamos que a qualificação desses jovens contribua para despertar vocações, garantir mão de obra para instituições museológicas e até mesmo, colocar no mercado profissionais capazes de realizar trabalhos de forma independente, abrir um horizonte muitas vezes desconhecido, além de fortalecer o campo da Preservação Patrimonial.”
O impacto gerado pelo PEP pode ser observado no interesse dos alunos em iniciar profissionalmente no campo da preservação. Ao todo, 9 alunos optaram por cursos de graduação voltados à preservação do patrimônio cultural, 4 desses alunos buscaram pela graduação em Conservação e Restauração na Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ e hoje atuam em instituições públicas e privadas.
O comprometimento de Márcia com a difusão científica e amadurecimento profissional de seus alunos fez com que ela apresentasse o PEP em diversos países, incluindo dois congressos internacionais em conjunto com seus alunos, o que levou ao reconhecimento em 2020 pela reitoria da UFRJ com a moção de agradecimento pelo trabalho realizado com os secundaristas, menção honrosa e outras premiações.
Com o falecimento de Márcia Valéria no dia 2 de julho de 2024, a preservação do patrimônio cultural e a Educação Patrimonial perdem uma profissional de luta e comprometimento que buscava sempre o desenvolvimento social e profissional de seus alunos, construindo cidadãos preocupados com a preservação do patrimônio e da memória nacional.
[1] Márcia Valéria atuou como Conservadora-Restauradora junto ao Museu Nacional/UFRJ, onde foi chefe do Laboratório Central de Conservação e Restauração e nos seus últimos anos de vida, trabalhou junto a equipe do Laboratório de Conservação e Restauração de Acervos Bibliográficos. Mestra em História Social pela Universidade Severino Sombra, com bacharelado em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em diversas áreas – Cultura, História e Literatura Africana e Afro-brasileira, Conservação Preventiva, Papel japonês. Na UFRJ ministrou aulas no curso de Biblioteconomia. Atuou ainda junto a instituições como Fundação Casa de Rui Barbosa, CECOR/UFMG, IPHAN/DF, Museu do Ingá/FUNARJ, Museu Imperial/IBRAM e Museu dos Teatros/FUNARJ.
[2] Para conferir a série “Um Museus de Grandes Possibilidades” acesse https://www.youtube.com/@programadeeducacaopatrimon6439/videos?view=0&sort=dd&shelf_id=0
[3] SOUZA, Márcia Valéria. PEP: o Programa de Educação Patrimonial para secundaristas do Laboratório Central de Conservação e Restauração do Museu Nacional. 2018. Disponível em https://xn--conferncias-sbb.ufrj.br/index.php/sintae/sintae2018/paper/view/2434. Acesso: 20 de julho de 2024.
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