Por Roberta dos Santos*, arquiteta e urbanista (UFF), Mestre em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural (COC/Fiocruz), Diretora de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural (Sec. Municipal de Cultura, Turismo e Eventos de Magé), Bolsista em pesquisa (COC/Fiocruz). E-mail: robertasantos.patrimonio@gmail.com e Carlito Lopes* é historiador (USF), mestrando em História Social (UFF). Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa em História Econômica e Social (NEPHES). Coordenador de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural (Sec. Municipal de Cultura, Turismo e Eventos de Magé). E-mail: carlitolopes@id.uff.br
Originado, apropriado e transmitido a partir, para e através de pessoas e grupos formadores da sociedade, o patrimônio cultural representa a memória de um tempo passado submetido às dinâmicas e relações do presente. Sua gestão e preservação dependem de políticas e instrumentos orientados para a proteção, valorização e disseminação do patrimônio cultural em sua diversidade.
O conjunto de igrejas históricas de Magé remonta, especialmente, aos séculos XVIII e XIX e integra valores atribuídos por sua materialidade, com arquitetura singular e composição harmônica na paisagem, e por sua imaterialidade, representada pelas relações tecidas, pelas memórias e manifestações religiosas tradicionais na cidade.
Cada igreja reflete diferentes fases do desenvolvimento social, geográfico e econômico da região. Algumas datam do período colonial (imagens 1 e 2), como a capela de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim, que foi construída no século XVII e servia tanto como local de culto quanto como parte de uma plantação de cana-de-açúcar. Outras igrejas surgiram mais tarde, associadas ao processo de industrialização do município, como as dedicadas a Santana e São Sebastião (imagem 3).
Com o avanço da industrialização no Rio de Janeiro, novas formas de organização social e econômica surgiram, influenciando também as práticas religiosas. As igrejas ligadas às fábricas e às ferrovias exemplificam essa integração entre religião e desenvolvimento industrial (imagem 4). Assim, o patrimônio cultural de Magé ilustra tanto a herança histórica quanto as mudanças ao longo do tempo.
Na década de 1980, em reconhecimento a sua riqueza e importância cultural para o estado, as igrejas foram tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e, em 2024, através da Lei nº 10.397/2024, passaram a compor o “Caminho das Centenárias”. Esta lei consolida uma rota turística religiosa e a declara Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, contribuindo para a valorização da história e da arquitetura em uma cidade deslocada dos grandes centros urbanos e projetando um otimismo para a preservação das memórias e manifestações religiosas em Magé.
Fontes e bibliografias
ALMANAK Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro para o ano de 1880.
ARQUIVO Nacional. Fundo Ofício de Notas do Rio de Janeiro. Livro de Notas 39.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.
FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. 2ª edição. Rio de Janeiro: UFRJ; Minc-Iphan, 2005. 296p.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2003 [1877-1945]. 224p.
VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2010.
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