Sobre plataformas e patrimônio digital

Sobre plataformas e patrimônio digital

Por Marina Leitão Damin*, Doutora e Pós-doutoranda em Memória Social, professora da Economia Criativa na Estácio Niterói e autora do livro “Lembrar e Esquecer: O Ciclo de Vida dos Objetos Digitais no Instagram”.

Você provavelmente chegou até esse texto por meio de uma plataforma digital: Instagram, Facebook, Google. Em um processo de navegação cotidiano ou da busca específica, o termo patrimônio faz parte do seu universo. E o seu universo alimenta o algoritmo, que aprende com esses padrões.

Se olharmos para o Instagram e o Facebook, ambos fazem parte do mesmo conglomerado, a Meta Platforms, que divulga como missão “Dar às pessoas o poder de construir uma comunidade e aproximar o mundo” (META PLATFORMS, 2024, online, tradução nossa). Será mesmo? A autora Shoshana Zuboff (FORTUNE, 2024, online), diz que as plataformas são um mercado que se abastece da experiência humana privada como uma fonte gratuita de matéria-prima para novos processos e vendas. Então temos o ato de produzir conteúdo, textual e/ou imagético, publicar e interagir, mediado por uma lógica que entende a inserção desse conteúdo como um produto a ser vendido.

Mas, qual a relação disso com o patrimônio? Entendendo o patrimônio digital a partir da definição da carta da Unesco – que o define como o que tem origem a partir da expressão ou do saber dos seres humanos, digitalizados ou produzidos já de forma digital – e que nessas plataformas inserimos parte desse saber contemporâneo, é importante refletir o nosso papel como agentes, no presente, de futuros patrimônios digitais.

Com o fim do Orkut, e a perda do recorte de uma época, é visível que a durabilidade desses “lugares digitais” está literalmente conectada à lógica de mercado. Se as plataformas utilizadas atualmente começarem a dar mais prejuízo do que lucro, o pensamento de que elas são lugares que guardam um fragmento da cultura, do comportamento, da sociedade que está nesses meios digitais, não será algo relevante a ponto de impedir seu fim.

Cabe a nós, entender esses espaços, e os objetos digitais que produzimos, como suportes de memória. Dessa maneira, podemos trazer à tona essa discussão sobre patrimônio digital, que necessita ir além dos ambientes acadêmicos, institucionais e de preservação.

REFERÊNCIAS:

META PLATFORMS. Company Info. Disponível em: <https://about.meta.com/company-info/>. Acesso em: 3 jul. 2024.

FORTUNE. Surveillance Capitalism In Today’s Digital Age | Fortune Global Forum 2019., 18 nov. 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2WYjZo9kNYI>. Acesso em: 3 jul. 2024.

 

*Os artigos publicados no blog deste site são autorais e não refletem necessariamente a posição da Semana Fluminense do Patrimônio, bem como das instituições, organizadoras, patrocinadoras e apoiadoras da SFP.