À MEMÓRIA DE DONA EVA MARIA E A EXPOSIÇÃO ‘DA MÃE ÁFRICA AO ANTIGO CABO FRIO’, NO MART

À MEMÓRIA DE DONA EVA MARIA E A EXPOSIÇÃO ‘DA MÃE ÁFRICA AO ANTIGO CABO FRIO’, NO MART

Por Carlos Henrique Silva dos Santos (Graduando em Jornalismo)*
Revisão: Manoella Évora e Carla Renata Gomes
Área de Comunicação / Museu de Arte Religiosa e Tradicional – MART | Instituto
Brasileiro de Museus – IBRAM/MINC

 

Visitação escolar na sala de exposição temporária “Da Mãe África Ao Antigo Cabo Frio”, no Museu de Arte Religiosa e Tradicional.
Foto: acervo Mart

CABO FRIO (RJ) – A exposição “Da Mãe África ao Antigo Cabo Frio”, do professor e artista Edimar Freitas Lopes, inaugurada em 05 de agosto de 2022, permaneceu no Museu de Arte Religiosa e Tradicional / Instituto Brasileiro de Museus (Mart/Ibram) até 31 de agosto de 2024. Durante dois anos foram realizadas visitas guiadas, oficinas e palestras sobre as obras que buscavam representar parte da vida de Dona Eva Maria da Conceição Oliveira e o Quilombo da Rasa, em Armação dos Búzios (RJ), atraindo e encantando milhares de visitantes.

O artista criou as obras artesanalmente, baseando-se nas memórias e histórias que Dona Eva Maria – como era carinhosamente chamada – contou-lhe pessoalmente, junto à sua filha, Dona Uia, falecida em 2020, de COVID-19.

Cada pintura marcava um momento que se conectava com a história dos povoamentos do antigo Cabo Frio – que se estendia de Ponta Negra, em Maricá, até o Rio Macaé – desde a chegada dos escravizados aos portos clandestinos da região, especificamente à Praia de José Gonçalves, em Búzios, onde os avós de Dona Eva desembarcaram, até a ida dessas pessoas à Fazenda Santo Inácio de Campos Novos, onde eram rebatizadas, catequizadas, comercializadas e distribuídas para as diversas regiões.

“Fazenda Campos Novos – o batismo” Obra: Edimar Freitas Lopes. Foto: Carlos Henrique / acervo Mart
“O Quilombo de Dona Eva Maria (A vida no quilombo)” Obra: Edimar Freitas Lopes. Foto: Carlos Henrique / acervo Mart
“Roda de Samba – Os Orixás” Obra: Edimar Freitas Lopes. Foto: Carlos Henrique / acervo Mart

Nascida no início do século XX, Dona Eva, mesmo com bastante idade, relatava com alegria e entusiasmo a sua história, desde as brincadeiras de ciranda, o samba de roda, a capoeira, até os trabalhos com a pesca, o plantio e a preparação do trigo na Casa de Farinha, existente até hoje, no Quilombo.

Visitantes na sala de exposição temporária “Da Mãe África Ao Antigo Cabo Frio”, no Museu de Arte Religiosa e Tradicional.
Foto: acervo Mart

Dona Eva viveu longos 114 anos, tornando-se um símbolo de liderança e matriarcado, com doze filhos, dezenas de netos, bisnetos e tataranetos, que lutaram, juntos, pelo reconhecimento das terras e pela preservação da sua cultura e identidade, que enfrenta e resiste a tentativas históricas de apagamento cultural e a ameaça da especulação imobiliária na área do Quilombo da Rasa.

No Mart, mais de 14 mil pessoas visitaram o museu durante a exposição, tendo a oportunidade de conhecer um pouco dessa fascinante história, através dos quadros de memória, fixadas em acrílico e madeira, criados por Edimar Freitas Lopes. O Mart busca se aproximar dos Pontos de Memória e Cultura da nossa região, enquanto equipamento Federal de Cultura, e apoiá-los para que suas tradições, saberes e fazeres sejam representadas e difundidas.

APOIO DE PESQUISA:
Pierre de Cristo (pesquisador e historiador)
Dados de visitação: FVM – FORMULÁRIO DE VISITAÇÃO MENSAL / MART/IBRAM

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