Edificações importantes para a preservação da história e da memória do período do café estão sob risco na região do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo. A situação dos exemplares da arquitetura daquele período está sendo levantada por uma pesquisa conduzida pela professora Sílvia Helena Zanirato, da Universidade de São Paulo. O trabalho foi apresentado durante a mesa “Pesquisa e Riscos”, no dia 23 de agosto, no Encontro do Patrimônio Fluminense.
“Infelizmente são edificações bastante comprometidas, seja por descuido, por inércia, ação do tempo, fungos, bactérias, cupins ou ação da chuva e do vento”, afirmou. O objetivo do trabalho é levantar como essas edificações estão hoje e fazer projeções sobre a possibilidade de manutenção delas nos cenários anunciados para a região diante das mudanças climáticas globais.
A região do Vale Histórico, à qual Monteiro Lobato se referiu como “cidades mortas”, passa por um longo período de estagnação econômica, pano de fundo da situação preocupante do patrimônio local, explicou Sílvia. Segundo ela, muitos imóveis foram abandonados por pessoas que saíram em busca de oportunidades melhores em outras regiões.
De acordo com a pesquisadora, o Vale Histórico já vem sofrendo os impactos das mudanças climáticas atualmente. Um exemplo disso é o alto índice de descargas elétricas. “Temos ali duas igrejas que já sofreram descargas. Já há índices de chuva bastante altos para o local. A tendência já avaliada pela nossa pesquisa é de aumento de três graus de temperatura, o que tende a fazer com que esses eventos se intensifiquem nos próximos 30, 50, 70 anos”, disse. Além disso, muitos imóveis estão em áreas sob risco de deslizamento.
Com a pesquisa, financiada pela Fapesp, Silvia espera sensibilizar as autoridades responsáveis a atuar mais firmemente para a preservação desse patrimônio.
Também participou da mesa a arquiteta Cláudia Rodrigues. Ela apresentou o trabalho de conservação preventiva desenvolvido pela Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, para a preservação de seu prédio e de seu acervo. De acordo com Cláudia, a instituição deixou para trás uma atitude reativa em relação a seu patrimônio e começou a agir de maneira proativa. “Estabelecemos algumas estratégias que têm dado bons resultados no sentido de prevenir danos e deterioração ao edifício e às coleções que ele abriga”, afirmou.
Para ela, o principal desafio desse trabalho é a falta de conhecimento sistemático sobre determinadas questões. Para reverter a situação, a Casa de Rui Barbosa têm agora uma linha de pesquisa voltada para a preservação do patrimônio. “Essa pesquisa funciona de forma integrada, dentro da especificidade do museu-casa, que sempre é a preservação do continente e do conteúdo. Nosso desafio é formar pesquisadores e profissionais capacitados nesse campo da prevenção para que possam disseminar esse trabalho”, declarou.
Já o chefe do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Leandro Goulart, falou sobre o projeto Caminhos da Serra do Mar, coordenado por ele. De acordo com ele, a iniciativa – que criou uma trilha de longa duração na Mata Atlântica – tem ajudado a reverter a situação de degradação encontradas ao longo do caminho. “Com a visitação ordenada e com a pressão da população, espero que consigamos reverter essa situação”, afirmou.
Leandro explicou que o objetivo é proteger o patrimônio social e cultural, além do ambiental. “A trilha passa por comunidades com característica particulares. Há uma comunidade de imigrantes portugueses que planta hortas e flores e tem toda uma tradição de alimentação. Esperamos, com esses caminhos, mantê-la no meio rural, dando outras possibilidades de renda a eles”, disse.