Paisagem e a cultura como processos em transformação resultantes da ação humana. O tema que orientou as discussões do Encontro do Patrimônio Fluminense não poderia ter sido melhor exemplificado que na escolha da palestra de abertura. O professor Rafael Winter Ribeiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro apresentou a inscrição da cidade do Rio de Janeiro na lista do Patrimônio Mundial da Unesco, destacando as implicações, desafios, perspectivas e soluções encontradas durante esse processo. Para Rafael, o título é inovador, pois “coloca a paisagem como elemento catalisador das políticas públicas e agente incentivador da cidadania”, destacou.
O ingresso do Rio de Janeiro na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco foi aprovado após 10 anos de trabalho em prol de sua candidatura. Em 2002, se deu a primeira tentativa de inscrição do Rio na Lista, como sítio misto, natural e cultural, incluindo três fragmentos: o Parque Nacional da Tijuca, o Jardim Botânico e o Pão de Açúcar. O Icomos – International Council on Monuments and Sites, órgão internacional que apoia a Unesco na avaliação dos dossiês das candidaturas apresentadas, analisou a candidatura e recomendou que o Rio fosse inscrito como paisagem cultural.
Foi constituído um comitê com representação política e técnica nas três instâncias governamentais e na sociedade civil, para elaboração do dossiê e fixação de diretrizes para a gestão compartilhada do sítio Rio Paisagem Cultural. “Nesse momento, tínhamos como pano de fundo a tentativa frustrada de candidatura de Buenos Aires; a insistência da Unesco, na defesa do conceito de paisagem urbana histórica, que não traduzia o Rio de Janeiro”. Havia também uma oportunidade pelo fato da visibilidade internacional ter sido aumentada pela proximidade de megaeventos, como a Copa do Mundo.
A conclusão que o comitê chegou foi que o fato mais importante era a forma criativa pela qual o habitante da cidade havia se adaptado à topografia irregular da cidade, em uma luta entre a montanha, o mar e o brejo, inventando modos de usufruir a vida, isto é, como a cidade agencia o seu sitio. “A paisagem deveria ser vista como ponto de partida. O Rio foi inscrito e entrou para a lista, então, pelo cenário urbano excepcional da cidade, constituído por elementos naturais que moldam e inspiram seu desenvolvimento”, explicou o professor.
Por fim, Rafael Pereira ressaltou que o título não pode ser apenas servir como decoração, mas servir como um pacto em torno de valores duradouros e sustentáveis: “Além de envolver todas as esferas do governo, pensar a paisagem como patrimônio implica em novas perspectivas com relação à preservação e à prática da cidadania. Trata-se de incluir a valorização e a preservação da paisagem como um dos elementos constituidores de uma cidadania plena, formando, com isso cidadãos conscientes e interessados na preservação da paisagem carioca, concluiu.