A riqueza do patrimônio cultural e natural da Região dos Lagos, os perigos que ameaçam a sua preservação e o impacto da atividade turística para a região nas últimas décadas foram temas de debate da mesa-redonda que encerrou o VII Encontro do Patrimônio Fluminense, realizado na Casa de Cultura Charitas, em Cabo Frio, na última sexta-feira (10/11). No evento mediado pelo historiador Paulo Roberto Pinto Araújo, professor da Universidade Veiga de Almeida, especialistas trocaram ideias sobre projetos que buscam oferecer alternativas de desenvolvimento sustentável para as cidades da Região dos Lagos.
Analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Viviane Lasmar explicou a natureza do trabalho da instituição, que tem o objetivo de proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental no país. Viviane também falou sobre os desafios da unidade de conservação para pescadores artesanais em Arraial do Cabo e os esforços para o ordenamento do turismo no município. “A pesca de canoa é uma atividade milenar aqui na região. A unidade surgiu em 1997 pela demanda dos próprios pescadores artesanais, que reclamaram de perder a sua área, tanto no mar quanto na praia, em função da pesca industrial, do turismo e da especulação imobiliária”, contou.
A historiadora e arqueóloga Jeanne Cordeiro recuperou, em sua apresentação, a história da ocupação da Região dos Lagos, desde os primeiros grupos que se estabeleceram em Saquarema, cerca de 5270 a.C. “O arqueólogo está presente na Região dos Lagos, minimamente, desde os anos 1960, com pelo menos três pesquisas por ano”, afirmou. Jeanne também explicou como funciona o trabalho dos arqueólogos nos sítios da região e falou sobre os conflitos de interesse que cercam a atividade. “Não tem como fazer arqueologia preservando. A gente só conhece quanto retira e analisa o material. A gente desmonta, leva para o laboratório e remonta aquele quebra-cabeças em outro espaço”, disse.
Dedicada a preservar a memória dos pescadores artesanais e das populações tradicionais de Búzios, a jornalista e documentarista Maria Fernanda Quintela falou de seu trabalho à frente do Acervo da Imagem e do Som de Armação dos Búzios, que hoje conta com 72 filmes documentários sobre as famílias da região. “Todo mundo enaltece as belezas naturais, mas e as belezas humanas da cidade? Não se pode fazer apologia de um território sem fazer também a apologia daqueles que conquistaram esse território”, afirmou Fernanda. A jornalista também revelou preocupação com o impacto do turismo sobre a atividade de pesca artesanal em Búzios. Com a perda de seus espaços tradicionais, os pescadores também perdem as suas referências familiares e afetivas. “A crise da identidade cultural é muito grande”, disse.
Historiador e professor da rede pública municipal de ensino, João Henrique de Oliveira Christóvão explicou como, ao longo das últimas décadas, o turismo de sol e praia sobrepôs-se à tradicional cultura de pesca e de sal em Cabo Frio. “O turismo surge como uma atividade organizada em Cabo Frio no fim da década de 1950”, declarou João Henrique, que também apontou a construção da Ponte Rio-Niterói, em 1974, como um importante marco no aumento de fluxo de turistas. Sem querer “demonizar” o turismo, o professor explicou o impacto que a atividade trouxe para a cidade. “O turismo de sol e praia foi uma escolha, uma “vocação” construída nas últimas décadas. Infelizmente o patrimônio histórico da cidade continua sendo relegado a segundo plano até hoje”, lamentou.